Comer, comer, comer. É no que as pessoas mais pensam. É o que elas mais fazem. Através do vidro do expositor exibem-se os brilhantes alimentos aos olhos dos glutões. Para todos os preços. Para todos os gostos. O que, mormente, se faz na sociedade de consumo é, definitivamente, comer. Come-se e comeu-se à farta. Na história da humanidade mastigar um alimento sempre foi um ato reproduzido infinitamente, visto que necessário. Preparar a refeição talvez tenha sido nos primórdios da sociedade a primavera da cultura. O domínio do Homem sobre a Natureza. É claro que comer é uma necessidade fisiológica do ser humano, essencial para a sua sobrevivência. Contudo, sua função primitiva de simplesmente cessar a fome foi, faz séculos, sobrepujada pelo prazer efêmero e vazio de se comer com forma e estilo. Passam-se os olhos por uma vitrine de doces com a mesma atitude que se passa por uma vitrine na loja de roupas.
Na contemporaneidade, a necessidade de se comer se converte no desejo de se comer. Num querer onde o tamanho do estômago muitas vezes não é o limite. Não se sente fome, apenas. Nem mesmo é necessário que se tenha. Sente-se desejo, têm-se ambições por alimentos. É a era do gastro-consumismo. A exploração do alimento pela indústria quer aguçar a cobiça dos consumidores, tornando-os consumistas voracíssimos. Os resultados muitas vezes dão em invenções bizarras, em problemas de saúde por conta de uma alimentação pobre em nutrientes - embora com uma bela aparência, cheiro e até gosto. Tudo produzido com todo o cuidado em laboratórios especializados. É a era do gastro-simulacro. Imitam-se o gosto de carnes nobres, frutas raras, sucos naturais. Não posso senão incitar o gastro-consumidor afim de promover a inversão destes pseudo-valores. Pensemos, ao invés do consumismo, no consumerismo: o consumo consciente. Lembremos que por trás de um folhado de frango existe, na verdade, um esfolhado de frango - digo, um frango esfolado. E bebamos sempre cerveja em garrafa de vidro que é ecologicamente correta!
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