domingo, 20 de janeiro de 2019

ENSAIO DE GRANDE VALOR CIENTÍFICO SOBRE OS TRÊS ESTÁDIOS DA GLUTONARIA

Quanta alegria é dar de olhos em um belo prato de comida, uma mesa soberbamente coberta pelas maiores delícias da cultura gastronômica. O cheiro que antecede ao churrasco, o próprio churrasco quando pronto. Um pão saído do forno. Ó, como é jubiloso! A comida, neste estádio, é um horizonte de prazeres infinitos. O mundo se converte em cores alegres. Deleite do espírito aos prazeres da carne. Um universo perfeito que a mente constrói meramente em função do olfato. 

Quando então nos colocamos a comer, que prazer! Já estamos então no segundo estádio da glutonaria. Não são poucos os que comparam o gozo da comida com o gozo do ato sexual. Um saboroso pastel de queijo. Deus! Um belo pedaço de costela bovina passada na farofa e depois um gole de cerveja. Cada mastigação é sentida como uma masturbação gástrica de ordem divina. Cada engolir é um gozo. 
Esperar-se-ia que após tantos gozos a alegria se estabelecesse novamente. Contudo, o transbordamento de prazer leva a uma fadiga física inevitável. E como a mente e o corpo formam um todo harmônico e indissociável, a fadiga mental também é consequência certa. 
A comida em exagero é embrutecedora e desnecessário. Somos por vezes levados a cometer esse pecado capital. Os pecados não são mais do que a constatação da imperfeição humana, a rejeição a comportamentos ancestrais dos quais muitos destes relutamos em praticar. Uns cometem o pecado da gula mais e outros menos, é, afinal, um comportamento inerente ao ser humano. O que nos conduz ao terceiro e último estádio da glutonaria: o da tristeza, acompanhada da culpa por um ato que lhe pesou fisicamente e até mentalmente. 
Conclui-se que alegria, prazer e tristeza são os estádios, exatamente nesta ordem, que se observam à mesa. Certamente é perfeitamente possível não se chegar ao estádio da tristeza se o comensal for regrado. Porém, os estádios da alegria e do prazer todo ser humano haverá de passar.

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