domingo, 20 de janeiro de 2019

APELO DA CIÊNCIA EM NOME DE NOSSOS POMBOS

    Quem salvará nossos pombos?! Já fazem algumas décadas que os nossos pombos caminham para uma existência de insubmissão e miséria. Tudo começou com o advento dos correios, seguido do telégrafo, do telefone, e por fim a internet. O pombo perdeu sua mais ilustre e útil função: o de levar mensagens. Agora o pombo se entrega a miséria e a mendicância por toda a cidade. Nas praças e nos terminais de ônibus, nos bulevares e nas catedrais. Muitos com sérios problemas físicos. Desfigurados por conta de acidentes pela cidade. Obesos pelo consumo de alimentos industrializados, os pombos estão a ponto de não voarem mais. Vivem da mendicidade e no ócio. Não se animam nem mesmo com uma minhoca. Preferem o sabor barbecue de alguns salgadinhos ou o apelo colorido da pipoca doce. 
    Lembro os leitores, para que se compadeçam, que estes pombos de nossa Desterro são herdeiros de uma família com história. Seus avós e bisavós-pombos foram testemunhas de um tempo inigualável nesta ilha. O tempo do grande poeta Cruz e Souza! Os antigos pombos desta ilha certamente assediaram esta ilustre figura. De certo o viram escrever em algum banco da praça, declamar em algum café, ler seu jornal ou livro. Clamaram para ele, talvez, por um alimento. Quem sabe mesmo - com o perdão da expressão vulgar - não cagaram na sua cabeça (se tão desafortunada foi a sua existência, como nos conta sua biografia, então não é um exagero pensar nesta possibilidade).
    Os pombos estão entregues a indiferença humana. "Porcalhões!", indagam alguns. "Transmissores de doença e impertinentes!",  vociferam outros tantos. Esses são alguns dos adjetivos preconceituosos que se ouve pela cidade. Contudo note, estas aves já foram assimiladas pela cidade. Tornaram-se pequenos trabalhadores desta. Aparentemente inúteis no seu ofício, a presença do pombo é necessária, diria mesmo imprescindível. Ele é uma espécie de pequeno lixeiro a catar tudo o que caiba em seu pequeno bojo. Além do que, o pombo é um adereço da paisagem em fotos turísticas e artísticas. De resto, sua carne é iguaria apreciada pelo gourmet urbano. Santo Deus, nada mais útil! 
    Por essa razão e como defensor dos pequenos é que suplico: salvem nossos pombos!

(revisado em 26/01/2021)

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