Existem no mercado de consumo fogões de muitas bocas, seja para uso doméstico, seja para uso industrial. Conquanto, o que nos interessa é o de uso doméstico e, neste caso, o de duas bocas tão somente. Sabemos que existem os de cinco, quatro, três e até uma única boca. Aqui, no entanto, repito, prevalecerá o de duas bocas. Por qual razão? É que este é típico em espaços de habitação vulgarmente conhecidos como kitnets. Sendo, portanto, o tipo de público ao qual este artigo se dirige. Tendo o morador de uma Kit, como popularmente se abrevia, a necessidade de preparar uma refeição que exija um maior uso de cozimento simultâneo, seja por força do tempo disponível, seja em função do tipo do alimento que requer um preparo e consumo imediato, fará ele bom uso deste artigo. Penso que duas bocas não requerem mais do que duas panelas. Afinal de contas, se é somente dois queimadores no fogão que se possui, porque deveríamos ter mais que duas panelas?
O que torna o processo de culturalização da natureza um desafio para quem dispõe de apenas duas bocas é o fato de que, diante de um prato mais elaborado, o jogo que se faz entre as panelas e as bocas e os ingredientes necessários deve ser pensado logisticamente para que a refeição obtenha êxito.
Assim, se se pretende o preparo de um frango de panela e um arroz com legumes o que se deve preparar por primeiro e o que se deve preparar por segundo, terceiro, etc? Que jogo de panelas deve-se fazer e em qual momento são questões pertinentes neste caso. Asas de frango, por exemplo, devem ter seu preparo iniciado antes do arroz, e os legumes no intermeio dos dois. Mesmo um café com leite acompanhado de torradas deverá ser pensado na perspectiva da logística, principalmente em condições como esta. Pois, note, é necessário que se coloque água no bule, o leite na leiteira e o pão na frigideira ou sanduicheira. Três ingredientes, devem, portanto, serem manejados de maneira que, ao fim de um tempo limite, cheguemos a um café completo fazendo uso de apenas duas bocas. Não falaremos de receitas maiores como uma carne de panela acompanhada de arroz e batata frita, tampouco de um purê de batatas. A complexidade desta receita tornaria o estudo enfadonho. A análise combinatória - ciência matemática bastante útil neste caso - é condição sine quo non para a questão abordada. No entanto, insuficiente por si só, devendo estar essa articulada com a ciência de cada alimento e levar em conta suas especificidades de cozimento e consumo. Seguiremos com o estudo.